quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Iara

Lentamente, o pescador deslizava com a sua canoa pelas curvas do rio Urubu no Amazonas.Era bem cedo e ele ainda não havia chegado ao lugar em que ele costumava parar para pescar.
Mas assim que o rio começou a alargar, indicando o local costumeiro de pesca, algo diferente tomou conta dele.De repente, depois de uma curva, o pescador começou a ouvir um som agudo.Ele nunca havia escutado nada como aquilo.Era agradável e ao mesmo tempo perturbadoramente penetrante.Tendo nascido na floresta, ele não reconhecia aquele som como sendo o canto de pássaro algum.Também não poderia ser de nenhum animal que ele conhecesse.Ele foi seguindo a curva fechada cheio de curiosidade.O som foi ficando cada vez mais nítido, e aquelas modulações não seriam possíveis com cordas vocais humanas.
Ao final da curva, ele a viu.Próxima a entrada de um igarapé, ela estava só com a cabeça e os ombros fora d'água.Tinha os cabelos lisos e muito negros, e quase não movia os lábios ao produzir aquele som.
Ele não conseguia acreditar que alguém pudesse produzir aquele canto, aquele canto tão bonito... E era tão bonita...Ela tinha os olhos castanhos e sem expressão, mas eram como imãs...Ele continuou remando lentamente, ouvindo a melodia...Ela levantou a cabeça em direção ao céu, o som ficou mais alto, ela levantou os braços na direção dele, ele pôde ver os seios... Lindos...Parou de remar...Só ouvia aquele som lindo...Pulou na água...Os olhos negros o chamando...Os braços abertos pra ele...Os seios convidando...A melodia dos lábios...Ele foi boiando...O abraço...Uma sensação envolvente...Com um impulso da cauda poderosa de peixe, ela mergulhou abraçada ao pescador.A pescaria havia acabado.

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