terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A meu serviço

Me sirva uma dose
Mais leve do que antes
Mas sem gelo
Quero que o arrepio venha naturalmente

Me sirva um copo
Que seja meio cheio
Meio vazio é sempre o homem
Quero embriagar o ego pra ver o que sobra

Me sirva de bengala
Ainda posso andar
Mas só preciso de uma mão
Pra causar mal  a quem me cumprimenta

Me sirva de algo que me sirva
Já que não sirvo aos velhos problemas
Me sirva de roupas apertadas
Pra que eu comece a dieta do sumiço 

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Passagem de cores

No fundo, no fundo
no alto, no alto
o céu tão sem azul.
Abaixo, as nuvens brancas
nem sempre brancas assim.

E por que eu
no fundo, no fundo,
ser humano,
baixo, baixo
revelaria apenas uma cor?

Sendo as cores
apenas reflexo da luz -
vejo azul escuro,
talvez preto pra você -
tudo parece questão de perspectiva.

Eu sou mais de uma cor;
eu sou mais de uma face;
e ainda vou esmaecer
depois de brilhar;
e ainda vou me enrugar
depois de esgotar aqui esta energia.


quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Errante vivente

não coordenei o oi com o sorriso;
fui péssimo
não comemorei com o meu amigo;
ainda péssimo
nem sei porque ninguém convidei;
que péssimo
já sei no que me especializei:
na primeira impressão fiquei

me escondo no meu couro
não, eu não sou de ouro
apenas pedra sedimentar
ocupado em não me esfarelar

não sei onde por as mãos
então, meto os pés
não sei pra onde olhar
então, vejo tudo
sei que deve-se escutar
um pouco aprendo
sei que devo me aplicar
mas não pertenço

que bom que um dia volto a ser árvore
então, eu cresço, eu cresço

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Duas sabedorias

De águas, de terra e folhas,
já se sabia antigamente.
De teclas, máquinas e coisas,
menos se sabe agora.

O corpo não mudou tanto;
muda sempre o pensamento.
A inquietação de mudar
fez um mundo sobre outro.
Era um mundo de sabedoria já.
É um mundo de sabedoria vã.

Não queremos morrer como pássaro frágil.
Nós queremos chegar fortes na morte.
Cobrindo o mundo natural com nosso asfalto,
vamos completar a corrida sem abalos.

Movimentamos o ciclo com barreiras,
pois é preciso superar sempre.
Não basta ficar de papo pro ar,
a observar o vento, enquanto se respira.
Nosso intento, não sei onde escrito,
é de dominar as lufadas nunca antes vistas.

terça-feira, 27 de junho de 2017

AGT

me olhei de fora
mas não me lembro
o corpo estava em outro lugar

não tenho que explicar
não me viram fugir
as pessoas estavam la•

eu fui sem sair
eu fiquei por mais tempo
do que já desejei 

a memo¶ria e§ coisa pra ficar
mas na¢ quero mais lembrar
daquele branco ta≤ escuro


sábado, 3 de junho de 2017

Observador

Vinte anos atrás,
o adolescente de hoje ainda não o era.
Ele hoje o é,
mas ainda não o sabe.

Hoje sei sobre os testes
aplicados sobre os erros.
Hoje um idiota graduado
esperando erros inéditos.

E observo sem interferir,
pois não sou página de busca.
Não sou confiável pra ensinar.
Sou professor apenas da minha história.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Paciência

Amanhecer é esperar pela noite
Sem atropelar ninguém
Sem atropelar as palavras
Sem falar do protocolo
Do qual ninguém fala
Melhor esperar alguém falar
Estou falando sem ponto nem vírgula

Deitar-se é conformar-se com a escuridão
A claridade do dia não passa na velocidade da luz
E a insônia não esclarece coisa alguma
O mundo é movido à paciência
Eu me movo rapidamente por dentro
E todos se movem lentamente 
Cada um em uma direção


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Veneno

Eu sangrei menos
quando me passei por outro.
A hemorragia foi interna.
Agora, outro se passou por mim
e eu fiquei aqui sangrando.
Também fiz sangrar
a quem agredi.
Foi o tal tumor da ira.

Deve se sentir assim
o melhor assassino.
Quem melhor mata,
se mata aos poucos.

Melhor deixar passar
quem tem verdadeira pressa.
Melhor adiar o erro
já que o depois não existe.
Melhor ser melhor agora
enquanto eu sou eu.

A minha revolta pode ser eu.
O meu isolamento também.
A minha acidez e a careta.
O meu veneno também,
desde que eu não seja peçonhento. 

Apenas quem eu sou
já me faz pessoa inteira.
Não preciso sair do eixo. 
Sou lua cheia de fases.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Impressão

um cavalo imprime no solo
um C de casco
um C de calçado
um C de correr
um C de cavalgar

eu, no meu passo analfabeto,
deixo muito pouco pra se ler

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Quase gente

um tanto egoísta
mas gente
um pouco além da proposta
indiferente
querendo mais do que um animal
inconsequente

e ainda ama
quem engole
ou será que mata
o que recolhe
no coração
aquele sentimento
longe da mão
escondido no peito

dentro do uniforme
mas gente
um pouco sanguinário
mas gente
visando ser proprietário
de perfeição deficiente

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Desafinar

Indignado
Quando o que digo faz sentido
E alguém discorda
Esse alguém é aquela pessoa
Que diz sempre não

Indignado
Quando critico o estuprador
Pelo seu gosto musical
E sou julgado
Por julgar o horror

Indignado
Porque tenho oposição
Não ter apoio surpreende
Preciso de um cofre
Descobri que tenho segredos

Pior que desafinar cantando
É desafinar falando

sábado, 14 de janeiro de 2017

Uma palavra, uma virada

Meu bem se transformou;
em apenas trinca segundos,
mudou.
Virou testa enrugada,
depois que ouviu,
entortada palavra.

Fui eu quem disse,
se antes de tudo pensasse,
talvez eu não fosse.

Não que seja impulso,
não que me fugiu o pulso:
ficou entre intenção e uso.

Que viver não seja
poesia pensada,
tal antiga prosa cantada,
mesmo todo cão deseja
saber quando não lamber
a mão errada.

A guerra, invenção distante,
não vê no dia-a-dia
o amigo ou parente.
Nem escuta a praga
rogada tão próxima
entre um e outro dente.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Angústia

Anseio
Antítese
Anestesia 

Anos
Antes
Antecipação

Ancinho angariando analogias
Anel anal: angustiada anatomia

Animais
Animados
Aniquilação

Anêmona andando: anomalia
Ancorada ancora antagoniza

Ah, não!
Ah, não!
Ah, não!
An...
An... 
An...