segunda-feira, 27 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Hora do almoço

Ele parou o seu veículo perto da guia num espaço que para a maioria dos motoristas seria proibido. Não para ele. O seu carro tinha o nome de um super mercado conhecido numa placa de alumínio presa à grade. Uma propaganda que ele nunca se incomodou de tirar.
Enquanto subia na calçada, notou que o cadarço da sua bota estava desamarrado. Abaixou e amarrou-o. O outro pé calçado com um mocassim leve não precisava. Ao se levantar, ajeitou o casaco marrom de veludo sobreposto ao colete laranja e a camisa cinza. Trajava uma calça de brim, também cinza, que havia escurecido onde fazia dobras. 
Se aproximou da vitrine do restaurante, onde, num canto do vidro, era exibido o cardápio. Cruzou os braços, se curvou um pouco para ler e franziu a testa. Murmurou alguma coisa, coçou o queixo barbudo e balançou a cabeça. Ao se afastar dois passos, olhou para cima e leu: "Tutano de Cordeiro Restaurante".
Descendo a rua e virando à direita, a rua estava interditada por uma feira que começava a se desfazer. Já passava de uma da tarde, e ele sabia que esse era o melhor momento. Parou novamente o seu carrinho de super mercado perto do meio-fio, e se abaixou para começar a apanhar a sua dieta vegetariana de fim de feira.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Ela disse "não"...


Olhando ao redor

Fragilidade talvez seja renunciar a força que é oferecida.
Egoísmo talvez seja se contentar consigo mesmo.
Tudo e todos a nossa volta são para o bem e para o mal.
A decoração é obrigatória.
O arranjo é pessoal.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Na luz


De passagem

Só preciso passar
De passagem em todo lugar
Se algo eu disser e machucar,
Minha bala inanimada, 
Má intenção perdida
Também vai passar

Vento vem embalar
Ele tem peso para vir apagar
A marca que fiz pra lembrar
Nos dias que vivi
A quem eu atingi
Eu, sim, vou passar

Nenhuma vida é fraca
No ato é que ela perdura
Um ato, uma assinatura
De fato, uma vida curta
Depois d'eterna sepultura,
Então, a memória furta

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Levando vantagem

O que eu faço com essa merda?
Papel higiênico sem ser passado a limpo.
O que eu faço com o meu xingamento?
Dirigido aos surdos de ouvido rico.
O que eu faço com a palavra ao vento?
Rubrica branco no branco do político.

O que faz o povo de joelhos?
O homem de terno está de pé.
O que vê a tontura com fome?
Alucinação num cavalo de fé.
O que vê o homem de terno?
Tudo o que tem, estorva o que é.

E tem gente que é um pouco menos.
E tem gente que fala demais.
Numa terra onde a regra é depois,
Não se anda entre os iguais,
Ninguém corta fila uma vez,
Na minha vez, levo um a mais . 


Talvez

talvez eu devesse beber mais chá do que vinho
talvez eu devesse absorver apenas amor de quem me ama
talvez eu devesse ouvir mais New Age 
talvez menos opiniões para preservar a personalidade 
talvez mais conversas e menos gente
talvez defesa sim, munição não
amor que não sufoque desejos
respeito à criança em mim
o momento do animal na sua hora
a arte
a natureza
o indivíduo
Para que eu possa viver mais quarenta anos.  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

As encruzilhadas do querer

Um corte no corpo ou a incerteza
vem matar alguém um pouco.
Melhor é a destreza de quem é ponderado
sem ter que parar para ponderar.

Eu falo pouco, mas tudo quero,
e sei que querer é oco.
Porém, ainda espero que o meu querer
não force um cego a ficar mudo.

Não vale a pena machucar;
dominar já é pena em regime fechado;
se envolver é teste, não é exercício.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Jogo de mostrar e esconder


Alguns, tudo, todos e a conta não fecha...

Todos querem vender.
Nem todos querem comprar.
Nem bem começa o mundo,
todo osso, toda terra, toda fêmea é competição.
Tudo é produto de usucapião.
Alguns são produto da própria compulsão.
Alguns vendem o virtual para ganhar o real.
Alguns já perderam a conta.
Todos chegam ao fim das contas 
sem saber ao certo porque temos que contar.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Comodismo


Nepotismo repetitivo

Agora, dou uma grande mordida
para alimentar pela vida
os que levam o meu nome.

Agora, naqueles que lutam pela vida,
provoco aberta ferida,
mas não assino meu nome.

Agora, não dou perspetiva,
nada que anima nem incentiva
a quem não leva meu nome.

Agora, não creio em meritocracia
e só dou vez a minha cria
porque leva o meu nome.

Agora, acumulo tudo em vida
pra neta ainda não nascida
perdurando assim o meu nome.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Quando crescer, quero ser criança!

uma dependência
uma muleta
criando faíscas com a fricção
que advém da relação
da revolta gerada em par

uma lembrança
uma indiferença
de criança transparente
que incomoda gente grande
difusa pela imagem do seu par



sexta-feira, 3 de maio de 2013

O amanhã já expirou

Não sobrou nada pra amanhã.
O pão já endureceu.
Tive um momento de gozo.
Tive um momento de inferno.
Confundiram inteligência com corpo.
A intenção era beijo, e não boca.
O gelo derreteu no copo.
A oportunidade de falar se foi.
Ganhei no jogo do bicho.
O bicho foi usado.
A garrafa jaz tombada.
O batom já borrou.
Num relance, o sorriso corrigiu o batom.
A roupa perdeu a elegância.
À vontade, a roupa perdeu o valor.
Criei novas frases.
Muitas palavras se perderam esta noite.
Algum tipo de virgindade se perdeu.
A noite acaba se vamos dormir.
O efeito de hoje não tem efeito amanhã.
Na dúvida, que seja feito hoje.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Olhos


O biochato

- Onça não tem pintas; tem rosetas.
- Tomate não é legume; é fruta.
- Filho de peixe, alevino é.
- Grilo não canta; faz uma fricção sonora com as pernas.
- Panda não é urso.
- Contos de fadas não têm sapo; têm rãs.
- Nem bolsa, nem pochete; canguru tem marsúpio.
- Bromélias não têm flores; têm folhas modificadas.
- Altura do cavalo não se mede no ombro; é na cernelha.