quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Só o suficiente


Animal peçonhento passivo

Peçonha em repouso
O mal existe também como último recurso
A gravidade depende da interação
Não há prazer são em atacar
Minha defesa é contradição de azul vivo e veneno passivo
Não se entusiasme com as minhas cores
Não queira me pintar em tons malignos
Eu não sou o melhor
Mas eu posso ser péssimo
Me engolir não é fácil
Nunca quis ser o prato principal
Preste atenção na entrada na próxima vez

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Movimento sutil


A espécie dominante

Desde que começamos a domesticar
Desde que montamos o primeiro cavalo
Desde que ordenhamos a primeira vaca
E manipulamos a primeira raça de cães
Médicos ou monstros?

Decidimos quem são os estimados
Decidimos quem são as cobaias
Decidimos quem são os presos
Decidimos quem são os resgatados
Homens ou ratos?

De tanto nos atrevermos, nos dividimos
De tanto manipularmos, somos manipulados
De vontade própria, nos destruímos
De tanto transgredir, somos transgênicos
E transformamos o simples em controverso
Tentando salvar do mal
Sem contar com um novo mal
Com efeito colateral
Para um bem maior
Um novo mal igual



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Confusion blues

I had my share of pain
I had my champagne
I had my share of pain
I had my champagne

I'm a slave now
I must leave now

I'm soaking drunk, people
I'm so keen o' drunk people

So lost in my head
Keep on drifting
Solos in my head
Keep on drifiting

Confusing my brain...
Come fusing my brain...


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pedra, papel ou tesoura

Não há beleza plástica no amor.
Aquela cegueira que desmaterializa!
Não confundir com a sensação do sexo;
muito do que se sente não se vê.
Boneca inflável é ilusão palpável.

O sexo é apenas a pedra;
vai estar lá sendo belo ou não.
O papel é como embrulhamos
o que sentimos.
E o amor é o corte profundo;
nem ao menos é a tesoura.

Nós somos a tesoura:
somos úteis em certas horas
ou somos uma arma em outras.
Uma brincadeira de criança
torna-se séria em mãos adultas. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Rodo

Sentado no chão do teu abrigo.
A chuva cai e vem escorrendo.
Alcança os teus pés e te molha.
Você não faz menção de se mover.
Arte dramática.

Sentado no chão do teu abrigo.
A chuva cai e vem escorrendo.
Você levanta bufando e pega o rodo.
Como se fosse o pescoço do inimigo.
Drama.

Sentado no chão do teu abrigo.
A chuva cai e vem escorrendo.
A chuva molha quem está seco.
As lágrimas também molham.
Rodo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Professor escultor

Professor cabeça-dura
explica, explica, explica
aos crânios duros por fora,
penetrando até o fundo,
no miolo mole no fundo,
ele faz moldar, moldar,
moldar a massa cinzenta,
num exercício incessante
para nunca, nunca secar.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Uma negação

Pagão é como um não.
Um primeiro preconceito sem origem divina.
Come qualquer coisa que o diabo amassou.
A fome é humana como o preconceito.
Sem ver milagres, adoraria ver um.

Pagão é como um não.
Não comungar de um ritual.
Muito mais pão do que vinho.
Sem transformar a água em algo bom.
Apenas um cálice de álcool pode ser egoísmo.

Pagão é como um não.
Cheio de vocabulário onde falta a palavra.
Nenhum corpo, nenhum templo é proibido.
Duvidosa é a fé cega que lê o livro.
Sem querer, a inteligência é isenta de dízimo.






segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Entre nuvens

Os cães ladram e os dragões disfarçam.
Baforadas das narinas criam cortinas de fumaça,
ou entre verdadeiras nuvens no céu,
os dragões disfarçam.
Ou talvez não sejam dragões;
sejam qualquer coisa dita imaginária.
O homem duvida do seu mais fiel amigo
e manda que pare de latir.
O maior ignorante ladra mais alto;
o maior ladrão rouba o direito do cão.
Se não há uma fórmula matemática,
só há o efeito do LSD.
Como acreditar na droga real,
mas não acreditar no seu efeito?
Não há efeito sem cabeça,
mesmo que seja cabeçuda.
Na sua miopia sem magia,
o homem ignora o que há além.
O dragão já existia
ou passou a existir agora que eu escrevi?


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Frases solitárias

Solidão pode ser uma escolhaedaí.
Ou solidão pode ser um momento que teima em se prolongar.
As cores substituem pessoas que teimam em ser invisíveis.
Uma pessoa a mais já sugere a partilha do pincel.
Porém, a pincelada é pessoal.
Mas, ainda assim, na palheta de cores pode haver apenas uma cor.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Natural, inevitável...

Minhas botas nunca estão lustradas.
Nunca brilham os meus cabelos.
Ilusório é o brilho dos cabelos brancos
que me recuso a pintar.

Natural é o odor de cada dia;
sem perfume, 
sem os recursos do macaco de cheiro.
Mas, ainda assim,
algumas fêmeas de pernilongo me desejam.

É inevitável que me cresça a barba
ao invés da vaidade.
É inevitável que me cresçam rugas
mesmo sem que eu lhes faça caretas.