sábado, 31 de março de 2012

Turno feminino

Ela trabalhava na mesma esquina, na entrada do mesmo prédio há anos.No começo, principalmente as mulheres que passavam olhavam com desdém pra ela."Como é que pode uma mulher fazer isso que ela faz, e bem aqui onde nós moramos?"Os homens pareciam tratá-la melhor, e ela tinha que lidar com vários tipos: encanadores, eletricistas, motoristas, entregadores, motoboys, etc.Ela estava sempre sorrindo e de prontidão observando todos que passavam.Vez ou outra dando só um olá ou boa noite.
A sua família não aprovava o que ela fazia, mas ela tinha que trabalhar.Sua mãe achava muito perigoso trabalhar à noite e sozinha.Ela respondia que a noite as pessoas estão mais calmas do que durante o dia, então não tinha problema.Além disso, às vezes ela começava a trabalhar quando ainda era dia.Já o seu pai sempre insistia para que ela comprasse uma arma.Ela dizia que só as pessoas mal intencionadas usam armas.
A sua mãe também não gostava das roupas que ela usava.Ela dizia pra filha que ela deveria arranjar um trabalho em que não precisasse usar roupas em que as pessoas poderiam julgá-la inferior."Mãe, o meu trabalho é servir as pessoas.Eu gosto de me sentir útil assim.Se alguém me julgar inferior, é porque não precisa de mim."
E ela continuava vendo as pessoas passarem.Às vezes, parando algumas, conversando, explicando.Mas era sempre mais fácil lidar com os homens.As mulheres não gostam quando uma outra conquista algo que elas não conquistaram ainda.Afinal, quantas mulheres porteiras existem por aí?

quinta-feira, 29 de março de 2012

Me and the Midget (dedicated to John Crant)


http://themidgetandme.blogspot.ca/

Cada um com o seu vício

O clube do filme

Acabei de ler um livro chamado O clube do filme, de David Gilmour (não é o guitarrista do Pink Floyd!).Ele é uma espécie de diário na vida de David, um crítico de cinema, e seu filho Jesse, um estudante do ensino médio, no Canadá.
Numa fase em que David está em uma crise financeira por falta de trabalho, e Jesse não está indo nada bem na escola, eles resolvem fazer um acordo.Vendo o desinteresse de seu filho pela escola, David resolve propor algo arriscado: Jesse poderia deixar de estudar com a condição de que eles teriam que assistir três filmes por semana juntos escolhidos por David.Além disso, Jesse não poderia usar drogas, caso contrário o trato seria desfeito.Por outro lado, ele não teria que trabalhar e nem pagar aluguel enquanto mantivesse o acordo.
A formação de Jesse viria então dos filmes, pois David chamava a atenção dele para detalhes pra que eles discutissem depois da sessão.Interessante notar o olhar de um crítico e amante do cinema, quando ele chama a atenção para alguma cena incrível que "salva" um filme ruim, ou como um diálogo bom interpretado por grandes atores também fazem valer a sessão.
De qualquer forma, a convivência dos dois, os debates, os desabafos de um adolescente em crise com a namorada, a falta de trabalho do pai, nos faz perceber que o livro é muito mais do que apenas "pai e filho que não tem nada pra fazer então resolvem assistir uns filmes".É um livro sobre criação de um filho, com muito diálogo, muitos erros e acertos tanto de um lado como do outro.Alem disso, esse acordo surreal fez com que pai e filho se aproximassem muito mais num momento em que os dois estavam sem rumo.A medida em que o tempo vai passando, essa proximidade vai ficando cada vez mais óbvia, mas é claro que existem os percalços no meio do caminho.E existem também bons momentos, é claro, que só quem ler o livro vai descobrir.


O Clube do Filme, de David Gilmour - Editora Intrínseca

quarta-feira, 28 de março de 2012

Para aquelas que são

As pessoas não são importantes só porque são pessoas.
Quando fazem música boa, elas são importantes.
Quando elas dançam e exercitam a libido, elas são.
Quando elas pintam bem o que sentem, elas são coloridas.
Quando elas cozinham e dividem a comida, elas se dão.
Quando elas são poetas mesmo sem escrever, elas têm o que dizer.
Quando são humildes ao falar, elas dizem tudo.
Quando representam tão bem ao ponto de serem verdadeiras na vida real, elas são de prender a atenção.
Quando valorizam as coisas boas da vida, elas são importantes porque se dão valor. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Os anjos justiceiros

O rapaz socorrido no acidente não conseguiu chegar vivo ao hospital.Ele e mais dois comparsas haviam saído correndo e atirando do banco.Mataram um segurança, e por terem planejado muito mal a ação, começaram um tiroteio com o segundo segurança.
Entraram correndo no carro que haviam deixado estacionado numa rua lateral ao banco e saíram em disparada.Alguém com um celular já havia chamado a polícia mesmo antes deles fugirem do banco, então uma viatura apareceu logo depois dando perseguição aos bandidos.
No desespero, o motorista perdeu o controle numa curva e bateu em um poste.Os seus parceiros praticamente nada sofreram porque haviam colocado os cintos de segurança, e conseguiram fugir a pé.Já o motorista foi arremessado contra o para-brisa e ficou inconsciente.
Quando os paramédicos chegaram receberam as informações necessárias da polícia, colocaram o acidentado no oxigênio dentro da ambulância e seguiram pro hospital.Cerca de cinco minutos depois, o motorista parou o carro, olhou para o seu parceiro e ele acenou com a cabeça.Ele passou para a parte de trás da ambulância, retirou a máscara do rapaz e esperou.Ele começou a sufocar, os batimentos aceleraram um pouco, mas logo pararam.
Eles haviam mudado mais uma vez o rumo da justiça.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Choro de cinema

Eu, humano que sou, falei, gesticulei, mas não consegui estancar a sangria.
Ela, mulher que é, só estava sendo mulher, e não ouviu o suficiente.
Então, eu, homem que sou, gritei e espumei pela boca.
E entre meus dentes balas voaram, e minhas palavras apertaram gatilhos.
Eu soltei o animal, e ele veio a galope com um monstro no lombo.
E por detrás do monstro veio, aberta, a bocarra cheia de dentes, cheia de cala-boca.
Eu não tomei fôlego e continuei, mas já começava a afundar com aquele navio fantasma.
Então, entendi que por trás de mim vinha o tsunami.
E enxerguei tarde demais.
Eu sabia que viria a bonança tão rápida quanto a onda.
E ainda assim, sobrariam destroços.
Eu não sou o náufrago; eu sou o próprio naufrágio.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pintando o céu de azul

Confesso que já fui enganado...

... por sutiã com enchimento.Quando ele foi retirado, encontrei cerca de um terço do que eu esperava;
... por produtos que tinham mais embalagem do que produto.Além do desperdício de material, houve a frustração de encontrar um produto minúsculo após desembrulhar tudo;
... por gente que deu seta pra um lado e entrou pro outro.Ou que esqueceu a seta ligada e nunca entrou;
... por pessoas que usaram a frase: "Entraremos em contato.", mas que nunca me ligaram;
... por homens andrógenos que confundi com mulheres, e cumprimentei com um beijo no rosto;
... por mulheres que me deram o telefone errado, sem saber que eu só faço sexo consensual;
... por pessoas que me disseram que o cachorro não mordia;
... por mulheres que gemeram, gemeram, no final disseram que foi bom, mas que até hoje eu não tenho certeza se chegaram lá.    

quarta-feira, 21 de março de 2012

Beleza na dor

À primeira vista pode parecer estranho falar isso, mas sentimentos negativos são inspiradores.Explico: no quadro Guernica, de Pablo Picasso, por exemplo, ele demonstra todo o seu repúdio ao ataque à cidade de mesmo nome.Esse é, talvez, o seu quadro mais famoso, onde estão representados pessoas e animais em desespero ao cair de uma bomba atirada por um avião alemão.Dizem até, que o quadro foi pintado em preto e branco, pois Picasso havia lido a notícia sobre o bombardeio em um jornal.
Outro exemplo: os gafanhotos que aparecem com frequência nos quadros de Salvador Dalí são uma representação do medo.É sabido que muitas de suas obras foram baseadas em sonhos, ou pesadelos no caso dos gafanhotos, que por vezes cobrem as bocas de algumas figuras em seus quadros.
Já nos filmes de Woody Allen, a representação de um personagem neurótico está sempre presente.Geralmente, o próprio diretor representa esse personagem com fala rápida e sinais de insegurança.
O quadro "Criança Morta", de Cândido Portinari, representa algo genuinamente brasileiro: uma família de retirantes com a mãe no centro segurando o filho mais novo falecido.É a dor da perda que une uma família numa das obras mais famosas do pintor.
Sendo assim, a revolta, o medo, a insegurança, a dor são sentimentos que muitas vezes são extravasados em obras belíssimas.Ou ainda, quando não são belas, são representativamente importantes, seja para um momento histórico ou para representar uma dor pessoal.Existe, sim, beleza na dor.

domingo, 18 de março de 2012

Blues do fim

Te matar com notas erradas
Tal como balas enferrujadas
Te matar com notas erradas
Tal como balas enferrujadas

Que nunca pensei pra você
Mas fizemos amadurecer


Essa é a calma do fim
Paz pra você e pra mim


Nos deitar rosas pálidas
Entre mil covas rasas
Nos deitar rosas pálidas
Entre mil covas rasas

Um capricho só ao morrer
Um nicho vago ao viver


Essa é a calma do fim
Paz pra você e pra mim


Munição que estava guardada
Gastamos tanto em palavras
Munição que estava guardada
Gastamos tanto em palavras

Sinto muito ver perecer
Dor que dói ao perceber


Essa é a calma do fim
Paz pra você e pra mim

sábado, 17 de março de 2012

A verdade

A verdade sobre...
a carne é que ela apodrece;
o poder é que o limite do poder é falta de poder;
o sexo é que ele serve para dois egoístas dividirem;
o cachorro é que ele é fiel, mas não tem religião;
a água é que ela cai do céu, mas nós pagamos na Terra;
o álcool é que ele é antídoto por pouco tempo e veneno por muito;
a anticultura é que ela é boa se for a favor da sua cultura;
o ser humano é que ele é o único que mente.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Hoje é o dia

hoje é o dia.
dia em que toda sílaba que li pode ser li-cença poética.
O dia em que posso começar e terminar frases com letra maiúsculA.
hoje é o dia em que a dor fica linda traduzida em palavras.
Hoje é o dia dos que admiram a lua mesmo durante o dia.
Dia das musas platônicas e das ninfetas dos sonhos.
hoje é dia das mulheres que amamos e dos príncipes sem cavalos.
hoje é o dia do exercício de usar bem a língua escrita.
hoje é o dia de sofrer por não poder usar a língua.
Todo poeta é um sofredor enfeitado.
E hoje é o dia de sofrer com alegria.
E antes que o poema acabe, uma rima,
pois hoje é o Dia Nacional da Poesia.

Objetos inanimados

Eles passaram pelo primeiro café, mas nem entraram porque dava pra ver que estava cheio.No próximo quarteirão havia um restaurante, só que, mesmo sem falar nada, passaram direto porque não era o tipo de lugar que eles procuravam.Então, entraram no próximo café, e se sentaram numa mesinha livre do lado de fora.
Ficaram em silêncio olhando as opções nos menus que estavam em cima da mesa.Quando o garçom se aproximou, fizeram os pedidos e ele se foi.
"Você não comprou nada novo pra casa na esperança que ela volte com tudo o que levou?" - ela perguntou.Ele ficou olhando pra ela por um tempo, com aquele ar incomodado de quem foi descoberto por alguém que não se conhece.Apesar disso, ele tinha a impressão de que eles se conheciam há muito tempo."Que bom que conseguimos um lugar pra sentar!" - foi só o que ele pode dizer.
Eles só precisavam de um lugar pra sentar e conversar.Ela havia ido até a casa dele, mas não havia onde sentar.Não precisavam falar de móveis que já não existiam.

terça-feira, 13 de março de 2012

Na sombra

Falta de bom senso

Imagine um padre, que só porque não está usando batina, sai com uma mulher pra uma noite de sexo selvagem.Ou então, imagine um vegetariano que nas horas vagas gosta de sair pra caçar.Ou um massagista que tem uma doença contagiosa de pele, mas continua trabalhando.Ou ainda, um membro dos Alcoólicos Anônimos que possui um bar.
Pois é, eu não tive que imaginar nada disso.Eu vi o funcionário que recolhe lixo e faz a separação dos recicláveis no meu prédio jogar papel no chão!Era final do expediente, ele estava indo embora, já sem uniforme.Mas isso é pretexto?Quer dizer que o que ele faz durante o expediente é só obrigação do trabalho?Como é difícil conscientizar as pessoas!Se ele não leva o que aprende no dia-a-dia pra sua vida pessoal, então ele só faz pelo trabalho, pelo dinheiro?
É claro que ele é uma pessoa simples, mas será que ele não está aprendendo nada?Preservar e  saber utilizar as coisas também é algo simples, então isso não pode ser desculpa pra uma pessoa que trabalha com isso o dia inteiro.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Superação humana

Como é que tem gente que equilibra uma lata d'água na cabeça?Como é que o ser humano consegue fazer certas coisas que a primeira vista são impossíveis?Coisas do tipo que os artistas de circo conseguem fazer, se você não os visse fazendo, não acreditaria que seria possível.Dobrar o corpo, equilibrar meia dúzia de coisas e fazer outras tantas girar, saltar e cair no lugar certo...É de duvidar, né?
Ou então, os skatistas, por exemplo.Como é que eles conseguem ficar grudados no skate daquele jeito?São coisas que desafiam a física.E a coragem, é lógico!
Mas o ser humano parece viver disso: desafiar as leis da física, da coragem, da sobrevivência.A gente pode até perguntar o por quê, e a resposta deve ser algo como: "Pra se sentir mais vivo!".Parece que quanto mais a gente chega perto do limite, com mais força a gente volta.
Voltando a pessoa com a lata d'água na cabeça, não é só a habilidade de equilibrar a água que impressiona.Sempre imagino uma pessoa humilde carregando essa lata d'água, com esforço, vivendo no limite.Mas esse é outro tipo de limite.Outra postagem.

domingo, 11 de março de 2012

Um amor melhor

Um amor que eu sinta é um amor melhor.
Se a vida for individual,
o egoísta tem a vantagem.
Me acompanhe na minha jornada,
e assim dobraremos essa vida.
Eu posso dividir caso você venha para somar.
Me subtraia do egoísmo e multiplicaremos amor.
Pegue na minha mão e teremos dez dedos sem fazer força.
Um beijo é segurar ali o sentir;
uma porta que se abre para uma porta que se abre.
Se mais alguém sorrir, que faça torcida.
Porque o inimigo sou eu, dentro do espinho da rotina,
que parado se finge, porém pica.
Na Terra, basta um homem para errar:
ao soprar e depois jogar álcool na ferida.
Que eu acerte uma vez antes de morrer,
pois a morte é certeira.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Oração do corpo

Eu tenho tudo.
Eu tenho dois ouvidos para aprender,
eu tenho dois olhos para observar tudo,
e uma vontade que me devora a boca.
Eu tenho duas mãos para criar,
e criar prazer  me é algo compulsivo.
Tenho apenas um nariz,
mas tenho duas narinas
e dois pulmões para respirar, só por garantia.
Enquanto os meus rins se revezam,
eu processo um mundo de coisas nos meus canos.
Tenho apenas um coração,
mas espero que seja grande.
E ainda tenho cabelo como moldura.
Ainda assim, se alguma coisa me faltar,
espero que eu ainda tenha um cérebro
para carregar esse eu
que será sempre todo eu.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A convenção 169 da OIT

Essa convenção que foi promulgada em 2004 pela presidência, prevê que os povos indígenas devem ser consultados pelo governo, quando alguma obra em suas terras, puderem colocar em risco os seus direitos.
O governo na sua ânsia em construir Belo Monte não seguiu o procedimento, e os povos indígenas, o rio Xingu, a fauna, a flora e todos nós agora vamos sofrer as consequências.Pessoas são desalojadas de suas propriedades, ameaçadas de morte por funcionários, o curso do rio é desviado, espécies endêmicas desaparecem, índios são obrigados a viver em reservas cada vez menores e etc.
Mais uma vez, a ambição humana faz com que só se pense em jogo de interesses e prestígio junto a empresários, ignorando-se as consequências do amanhã.Essa hidrelétrica é um elefante branco que só vai gerar energia durante parte do ano, pois no período de seca a vazão de água do rio é muito pequena.
E pequena também é a mentalidade de quem acha que podemos viver sem a natureza.

Soneto da declaração

Quanta modéstia cabe na fala sem rima?
Quanta insegurança barra a palavra do ser amado?
Quantas palavras pra dizer do meu envolvimento?
Quanta alegria vejo se digo as palavras?


O processo de dizer é dolorido
É arrancar um pedaço da minha zona de conforto
Um teste da vida ao se doar
Condicional de se receber as mesmas palavras em troca


Numa área de negócios no campo dos sentimentos
Ninguém quer ser o primeiro a declarar falência
Mas todos querem ouvir uma declaração


Será que digo e me dispo?
Será que tenho que ser o primeiro a dizer?
Antes devo me declarar honesto comigo mesmo

sábado, 3 de março de 2012

Clichês do cinema

- A mulher sempre veste a camisa do homem depois que eles transam, vai até a porta e para encostada no batente;
- Sempre existe um certo restaurante em que os namorados levam as namoradas para pedi-las em casamento;
- Quando alguém está sendo perseguido pelo assassino, sempre tropeça e cai;
- Quando alguém chega em casa e acende a luz, descobre que havia uma pessoa sentada no escuro esperando pra lhe fazer perguntas ou uma ameaça;
- Duas pessoas se conhecem.Uma está obviamente interessada na outra.Quando uma começa uma fala a outra também, e isso se repete mais uma ou duas vezes, até que os dois começam a rir;
- Um homem e uma mulher se trombam, vários papéis e livros caem no chão, eles se abaixam pra pegar, os olhares se cruzam...;
- E tem aquela cena nos minutos finais do filme em que o rapaz corre até o aeroporto pra impedir que a mocinha vá embora...
São as fórmulas que "funcionam"no cinema...

Eu vi...

Cuspindo o sol.

Sentado no ar...
Toque.


Quitanda.
Pequena, sim; insignificante, não!
Rock'n'roll pimenta!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Fixação

Os dois estavam sempre juntos.Em quase todos os lugares possíveis, onde ela estava ele também podia ser visto.Geralmente ela chegava antes nos lugares, mas ele chegava logo em seguida.Pela manhã, ela tomava o metrô para ir ao trabalho e ele a acompanhava.Desciam na mesma estação, caminhavam até o edifício em que ela trabalhava, e depois, ele seguia sem ela.Às vezes, almoçavam no mesmo restaurante.Ela vinha sempre com alguns colegas de trabalho, coisa que não o agradava muito, pois ele sentia um ciúme que guardava só para si.Mesmo assim, ele dava um jeito de apreciar a presença dela em meio aquela conversa incessante que eles sempre mantinham sobre o trabalho.Voltavam pra casa no mesmo metrô, nem sempre os dois sentados.Havia um parque no bairro onde eles moravam, e ela gostava de fazer caminhadas ali.Ele preferia correr, então se mantinham afastados nesses momentos.Mas mesmo quem não os conhecia, sendo um bom observador, via que os dois estavam sempre por perto um do outro.
Era uma ligação muito forte, e hoje ele queria fazer uma surpresa pra ela.Saiu antes do trabalho, tomou o metrô como sempre e chegou no prédio onde morava mais cedo.Cumprimentou o porteiro, mas ao invés de seguir para o quinto andar onde morava, foi para o décimo primeiro.Tirou do bolso a cópia da chave que no dia anterior ele havia visto ela escondendo num vaso do jardim, e abriu a porta.Tomou um banho, e depois, deitou-se nu na cama da vizinha para aguardá-la.