segunda-feira, 31 de março de 2014

Corrigindo o amante

Ao invés de pressionar os meus lábios contra os teus,
um beijo.
Ao invés de elogiar a cor dos teus olhos,
o brilho.
Ao invés de perder tempo segurando a tua mão,
o coração.

Tudo mais é ofegante.

quinta-feira, 27 de março de 2014

O fogo que ilumina e queima

o inferno tem outras prioridades;
não dê tanto valor ao que já é cinza

as tuas sombras te parecem tão negras,
pois tudo o que é chamuscado escurece;
até o que é cinza no fundo é negro

quanto mais luz, mais a sombra contrasta;
mais moedas polidas, mais a mão enegrece

que os picumãs dentro da tua cabeça,
não sejam da queima em vão dos neurônios;
para que a luz entre, basta abrir os olhos

sexta-feira, 21 de março de 2014

Claro como o ar

Não é o modo com que você anda;
algumas outras têm mais demônios nos quadris.
Não é a forma com que você me olha;
já descobri o valor do brilho dos seus olhos escuros.
O seu toque leve me traz ansiedade,
mas não explica o tocar sem as mãos mais profundo.
Um gemido diz mais que palavras escolhidas,
e estas palavras não são mais do que sílabas.
Também não é o jeito com que você me abraça;
sinto que ainda estão livres as minhas asas.

Sinto que você respira,
mas o ar não consigo ver.
Sinto que algo me move,
mas não consigo entender.
Sinto que é por respirar,
que sinto amor por você.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Vegetando na memória

Minha mão está tombada
como uma trepadeira sem pérgula.
Já não levanto protestos ao céu.
Enruguei.
Como tronco de árvore velha
não volto atrás.
Hoje dura pra sempre
sendo o último dia.
Existirá memória das frestas que alarguei.
Errei ao esticar certos galhos
à procura de sol.
Procurar um lugar ao sol incomoda.
O que faz do machado um machado
é a machadada.
O que plantei é raso.
Exceto aquelas bravas flores
que sempre voltam.
Super valorizar as próprias raízes
é não sair do lugar.

segunda-feira, 17 de março de 2014

O troco

Já ouvi que o mundo é financiado
Lei da oferta pra quem procura viver
Quem financia o bem também é vítima do mal
O dinheiro suja as mãos lavadas com água benta
Doar é uma fraqueza que a precaução não tolera
O mercado f-i-n-a-n-c-e-i-r-o é a-g-r-e-s-s-i-v-o
Nem todos sabem que a morte queima tudo
Ou que os esqueletos ficam com as roupas largas
Colecionar dinheiro garante uma morte com pompa
Belo caixão como troféu para quem venceu na vida
O que se recebe em vida é troco sem sorriso
Já não sei se o que vale é moeda ou dente de ouro

sexta-feira, 14 de março de 2014

Carnaval em São Francisco Xavier (SP)

Água mineral, água mineral!

Confetes!

Alegoria!

Hããã...

A rã!

Água mineral, água mineral!

É da minha conta

ser sicrano não me faz fulano
falo até o ponto que me permito ser
no resto, me rendo em mistério
eu que tenho dois pulmões,
decido se uso ambos ou não

no caminho torto, meu caminhar prático
puto da vida que é minha,
só eu posso ficar
eu que tenho dois pulmões,
grito para me ouvir primeiro

não entender é o primeiro passo
para se meter com o próprio entendimento
uma vida de cada vez
um palavrão na devida situação
essa é a minha vez de ficar puto

quarta-feira, 12 de março de 2014

segunda-feira, 10 de março de 2014

Nenhum segredo

ao te contar um segredo
mato a ansiedade e o segredo
segredo é ouro

algo como apontar com o dedo
tal arma se faz com o dedo
segredo é roubo

segredo não é pro que der e vier
e quando emprestado prum qualquer
segredo já não é

segredo todos têm e segredo vem
e quando segredo for além
segredo já não é




quinta-feira, 6 de março de 2014

Carnaval do alto da montanha

Mais um cume.
Carnaval sem confete.
Só a vista no horizonte
tirando a mira da miragem
para provar ao cérebro
que não há alucinação.

Passageiras, as pessoas passam.
Os desfiles ficam com as alegorias.
Ninguém aguenta tanta realidade.
Na avenida plana, morro.
No alto do morro, revivo.

Aqui em cima, 
não há sensação de grandeza.
O esforço para chegar me faz pequeno.
Lá embaixo, 
as pessoas minúsculas se esforçam para crescer.
Cada um imagina como chegar alto.
Cada um chega.
Sorriso gelado no vento do topo.
Sorriso emplumado na dispersão.
Mais uma dispersão.

Manduruvá multicor