quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Duelo entre a vida e a morte

caroço ou semente
depende do tamanho da boca
feliz ou indiferente
uma paga o preço pela outra

família ou ausência
a esquisitice é coisa da alma
amor ou carência
um acende e a outra apaga

vou fugindo de tudo
só não fujo da minha sina
pois ela só existe
pra contrariar o que se assina
na luta de todo dia
desafino quando a música afina
desafio qualquer tocador
a ouvir minha melodia assassina

quem diz que não pensa na morte
se distraiu demais com a vida
o grande final pode ser dramático
ou talvez só o fim da passagem de ida

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Desejando pouco

Que os espasmos sejam só de orgasmos
Que as palmas aliviem as almas
Que as lágrimas salguem as mágoas
Que a fala não critique quem apenas cala
Que a música quebre as leis da física
Que a cegueira se negue e a beleza impere
Que o mundo chegue ao fundo do poço dos desejos

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Porta afora

...acham que estão salvos dentro dos apartamentos
uma noite inteira acontece em um segundo no mundo
só posso preservar meu corpo dos elogios perdidos
enquanto a cidade grande acontece lá fora...

...grande é o medo lá dentro de se entregar
mas a vida te pega mesmo debaixo da cama
inevitável e teimosa como o fungo que vira comida
fundamental é o ponto de vista que consegue enxergar...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Casca e pele

Ah, eu sou mais que osso!
Dureza importa, 
mas osso não entorta.
Também sou nervo;
ora enrijeço, ora me atrevo.
Corre a fluidez do sangue,
mas ao coagular o pensar é estanque.

Nem tudo é ação;
ouvi muito por entre as moitas da cerca.
Não sou só mão;
também me protejo com luvas de pelica.

Ah, eu sou mais do que ouço!
A fala é escultora,
mas sou do pau-ferro uma tora.
Na cabeça sensível, o cabelo embaraça;
sou unha teimosa que como pente passa.
Apesar da casca, sou pele;
às vezes, sou como ela, além de ser ele.   

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Eu contra o mundo

Mantenho os olhos bem abertos.
O mundo chama isso de insônia.
Erro muitas palavras que digo.
Vejo o mundo atraído por elas.
Sorrio lembrando imagens boas.
O mundo gargalha marcando más.
Observo sacos de coisas ruins.
O lixo do mundo não sai daqui.
Observo a natureza das coisas.
As coisas da natureza murcham.
Creio em mil jeitos de sentir.
O mundo vê a segunda intenção.
Respeitar é um aperto de mãos.
O fim do mundo enterra corpos.
Tentei tirar um caldo mundano.
O mundo insone é que me sugou.  

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Amor limitado

Tente caminhar até à margem do seu amor.
Até onde não for mais possível pensar em juras mecânicas.
Tente definir se há medo.
Veja se estar longe e só é o bastante.
Olhe a sua volta.
Se houver margem, esse é o limite.
Seu amor tem restrições.
Seu amor é um pouco menos.