segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Corpos estranhos

meu nariz vai empinado
desafiando a gravidade
minhas raízes não podem aparecer
e revelar a minha idade
meus lábios carnudos
não estão cheios de carne
meus dentes são mais brancos
do que 3D ou a realidade
minha testa preenchida não atesta
o que expresso de verdade

estou tanquinho posso ir do porco aos anjos
estou sendo possuído por corpos estranhos
estou sem dentes indo por estranhos brejos
extraindo banhas pra inflar outros tamanhos

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Anti-rugas

O corpo vai perdendo o fogo;
a mão vai perder o braço no jogo;
porém, ainda se agarra à vida.

O olho vai perdendo o foco;
os pés já se levantam pouco;
porém, o couro ainda se estica.

A memória já não é de ouro;
bater forte no peito é raro;
com dor, o grito de guerra, ainda.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Diário da sobrevivência

Estou cheio de coisas que me deixam oco
Chega de almofadas que abafam tiros
Chega de lírios que cheiram a socos

No meio do homem existe um filho bom
No mesmo meio pode se criar o mal
No meio natural sobreviver é fatal

Estou cercado de presas que sabem caçar
Qual é a arma do homem sem limite
Que transita entre morrer ou matar  

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Os meus erros

Os olhos nas pontas dos meus dedos
tendem a se machucar demasiado
Tenho que observar mais
antes de tocar

Os medos nas pontas dos meus cabelos
me fazem ficar arrepiado
Tenho que aparar mais
essas pontas

Os chifres que insistem em crescer
na minha cabeça dura
me fazem insistir passar
pela porta estreita
Os sorrisos que eu não queria dar
brotam por educação
dos meus lábios mal educados
que falam só por ironia
Os meus pés pisam sem dó apressados
mesmo sem precisar de pressa
porque eu tenho que chegar
onde não me julguem apressado

Os meus erros de ontem sem repetição
não são melhores hoje 
para que eu possa surpreender
aperfeiçoando as desculpas

Os meus erros não são nada iguais
às palavras que escrevo
pois a ortografia escapa da poesia marginal
que é a vida cheia de falas





quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O eterno fim

Nada dura pra sempre.
Nem mesmo esta afirmação.
Nada causa estranheza eterna.
O eterno é que sempre parece estranho.
Distante, tão distante que deve estar próximo.
O relógio parece mesmo existir.
Mas o tempo é ilusão.
Espere pra ver.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

As pernas

Quando elas vem de frente, descaradas,
já sei que vou sofrer.
Não por má circulação, nem câimbras,
pois não sofro desses males.
Sofro pela circulação alheia, desnudada,
na febre do verão.
Elas passam e tento não girar o pescoço
para me poupar do mal do torcicolo.
Não quero sofrer pela beleza;
ela deveria ser coisa boa.
Mas elas vem em pares,
e passam por cima de vontades e olhares.