quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Capítulo I

Quando ele chegou na porta do café, olhou pra dentro e viu que apenas ela estava ali. Parecia que havia chegado há muito tempo porque a sua xícara de café já estava vazia. Além disso, ela tinha os olhos baixados sobre um livro grosso, o que dava àquela cena um aspecto de que muito já havia se passado.
O café era muito pequeno com apenas seis mesas e três banquetas para quem quisesse ser servido no balcão. Tinha uma das paredes espelhadas pra dar ao lugar uma dimensão maior. Ele olhou pra ela ao entrar, mas ela não desgrudou os olhos do livro. Ele escolheu uma cadeira que ficasse de frente para a parede espelhada. Só quando ele se sentou, ela ergueu os olhos como que para se certificar que alguém havia realmente chegado. Ele não percebera que ela havia olhado para ele porque o movimento fora muito discreto, e ele tinha os olhos no cardápio sobre a mesa. O atendente veio até ele para pegar o seu pedido. Ele pensou um pouco e pediu um cappuccino. Na verdade, ele sempre parecia fingir que pensava um pouco quando estava num café, e no final, sempre se decidia por um cappuccino. Quando o atendente voltou para trás do balcão, ele olhou de novo para ela pelo reflexo no espelho. Ela continuava lendo, como se ele não estivesse ali. Ficou tentando ver qual era a capa do livro, o seu nome, se contorceu um pouco, mas não conseguiu. Ela pareceu se incomodar com os movimentos dele e, então, olhou rapidamente para o espelho. Ele estava um pouco desajeitado na cadeira e, meio sem jeito, acenou com a cabeça. Ela apenas baixou os olhos novamente e continuou a ler.
Lá fora, o som de um trovão muito distante anunciava a chuva que, segundo a meteorologia, deveria ter chegado na semana anterior. No mesmo instante, chegou o cappuccino dele. "Finalmente vai chover", ele disse para o atendente. "Parece", foi a resposta do atendente que parecia não suportar mais falar sobre o tempo com os clientes. "Mais alguma coisa?". "Não, obrigado!"
A chuva despencou com força no teto do café, tendo alguns trovões esporádicos para aumentar o barulho. "Até que enfim, agora o tempo vai refrescar", ele falou meio que pra si mesmo, meio em voz alta. Ela olhou para o espelho, depois olhou porta afora pra chuva e balançou a cabeça. Percebendo essa reação dela, ele emendou: "Estamos precisando de chuva. Se não tem chuva, não tem café!", e levantou a taça de cappuccino em direção ao atendente que, ocupado em lavar xícaras, nem olhou pra ele.
Ela, percebendo a provocação, voltou a ler o livro, mas já sem conseguir se concentrar. "Esse livro parece ser bem interessante", ele disse, tomando um gole do seu cappuccino. 'Não acredito', ela pensou já sem paciência. 'Vou ter que responder!' Ela fechou o livro e virando pra ele falou: "O livro é muito interessante... pra quem está lendo!"  

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