segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Surpresa esperada

Surpresas são as respostas 
para as perguntas que nem ainda fiz
E que existem
E serão descobertas

Quero surpresa menor
Aquilo que já espero
que já se faz uma dor
Ora cura se faz surpresa
já que a vida nasce de uma dor

A morte ainda surpreende
enquanto que a dor extra
vinda do ataque de alguém
nos inflama de ódio 
nos faz lutar

Quero presente menor
sem embrulho mesmo
Nem quero ser embrulhado
Quero ouvir palavras
que eu não diria
Ouviria
Aquelas bem pensadas 
De verdade
sem combate
De verdade
sem tapa


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Sem seguidores

Continuo com as pequenas estúpidas coisas
que preenchem uma vida
que chamo de minha
porque esta cheia de mim.

Diferente das grandes coisas infláveis
que preenchem outras,
tao cheias de si,
que não me servem.

Ao seguir o padrão
nos aproximamos:
se eu tiver opinião
ou errar,
um precipício se forma.
E eu mudo de forma,
fico turvo,
minha vida se deforma,
incomoda a vista.
A foto do perfil deixa de ser confiável:
terei menos seguidores.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Floral

Você poderia fazer a água amanhecer orvalho?
Poderia trocar as folhas úmidas pela sua pele?
Poderia trocar o arrepio de frio pelo meu toque?

Será que você consegue ver?

Antes de sentir?

A imaginação aqui
não foi cantada
nem é prosa
nem é verso.

Na minha mente
foi uma bela visão.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Receita de acidez

que seja pão pão
queijo queijo
não sou nenhum
dos dois mesmo

deixo algum gosto
mas não sou cebola
não tenho sangue
d'uma beterraba à toa

ácido como caju
doce só no final
sobremesa pra ver
surpresa com sal

a minha receita
a alma repleta
de opiniões abertas
de cereja incompleta

entrando de sola
eu solo o bolo
posso dar uma volta
mas sou eu de novo

um pouco sem sumo
ainda sou limão
até que me aperte
ainda cego a visão

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Jardim zoológico x Pantanal brasileiro

A minha lógica me serve bem
Tudo mais parece monstruoso
Como ela foi capaz disso
Boca assim pequena
Delicada
Palavras enormes
Toneladas absurdas
Mesmo semi-surdas as pessoas ouvem

Fora da minha lógica há um crime
Que fere quem sente de forma especial
Que nem precisa de muito
Nem precisa se encaixar
Que sente
Sem sentido
Num mundo insensível às origens
Onde crianças brotam do asfalto

A minha lógica falha matematicamente
A minha mente fica perturbada
Porque sente mais do que deve
Inconveniente
Atrapalha a máquina que conta
A marcha dura do ser humano
Que sabe que tem que marchar
Sem saber que pode chegar caminhando



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Casca de ovo

Você usa os braços
pra se defender das facadas
Você grita mais alto
pra se defender das palavras
E se tranca em casa
mas a cabeça não para
E atacar pra se defender
não é uma coisa rara

Mas tudo é casca de ovo

Que sensível
Não me toque
Que agressivo
Antes eu mato
depois choro
como crocodilo

Antes o ovo
a galinha
eu
ou a casca de ovo
pra me defender?

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Além do controle

O que penso agora
que deve ficar
independentemente
do que eu pensar?

Se for traumático
ou um belo êxtase
algo intensamente
maior que uma fase;

Sem depender de mim,
sem depender de registro,
impregnando o ar,
me atravessa,
e isso, eu já não sou.

A fidelidade tem memória,
e os fiéis não se escolhem.
Os hábitos se repetem
girando em máquinas
não criadas pelo homem.

Além do controle,
já ninguém é.


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Adultos no comando

As crianças usam drogas
O corpo contém a artificialidade
A natureza opera milagres
Acidentes de pura beleza

As crianças assistem
Apoiadas em suas muletas
Só as crianças criam
E as crias repassam o cachimbo

O restante da natureza é fluxo
Para viver basta comer, dormir, amar
As crianças enrolam um cigarro
Num plano para conquistar o mundo

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Minh'alma sem calma

Minh'alma sem calma
já passa das dores do corpo;
preciso de limites,
pois já estou cercado de erros.
Não posso me encher
de coisas que me transbordem.

Minh'alma sem calma
já ignora os meus males feitos.
Já parece endurecida,
e meu corpo não escapa ileso
num mundo já sem terra,
onde os donos se sobrepõem.

Minh'alma sem calma
me parece ser somente humana;
fechada num coldre,
munida de belas balas de prata
que, às vezes, cospe
no inimigo, o próprio lobisomem.





segunda-feira, 25 de julho de 2016

Francamente

A folha de papel não sente;
a pena rasga duramente
com tinta azul
para disfarçar o sangue.

Como alguém que fere
franco com grande erre;
rasga por dentro
para disfarçar o sangue.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Fruto proibido?

Desnuda-lo das folhas,
pegar o fruto proibido,
tirar uma casquinha,
morder a polpa,
plantar a semente do amor
no jardim equivocado...

Ela e eu no paraíso,
testados como no inferno
e uns mil desejos...
Enquanto apenas uma folha,
que me tapa o sexo,
esconde o mundo do mundo. 

Apenas uma mulher e eu
tivemos de encher o mundo
com o sangue da minha carne fraca 
de pessoas defeituosas da mesma família
que nascem querendo comer
antes que o fruto apodreça no paraíso.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Batalha no sonho

Eis a bela que me cobre
dentro de uma vida que nem tenho
numa cama de casal
sou guerreiro suado e ferrenho.

Ela que nem me conhece
que apenas pra mim existe aqui
vive apenas em sonho
na aurora chega a hora de desistir.

Eu que desfaço o meu leito
sem nenhum motivo aparente luto
para chegar mais perto
e jamais encontro tal corpo oculto.

Ela que me prende enlaçado
no longo cabelo de seda suado
ao acordar tenho do lado
de algodão só o lençol surrado. 

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O limite no horizonte

Dura foi a cama que dormi
duro foi o frio que escolhi
e deixei o meu quarto
pra chegar longe

Escolher o de sempre
nem chega a ser escolha
tal riacho que corre liso
sem nem fazer bolha

Escolher o de sempre
nem chega a ser falha
sem tentar sair do rumo
tudo mais sempre calha

Dura foi a trilha de pedra
duro foi o sono na terra
e deixei o meu rastro
naquele horizonte

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Enfeitiçados

Ainda deito a minha cabeça na tua coxa,
pensando entre uma besteira ou outra
que poderíamos ser outros.

Ainda questiono a força que nos puxa,
tal qual o feitiço de alguma bruxa.
Onde estaríamos separados?

Nós muito pouco mesmo escolhemos.
Nós que apenas um ao outro temos;
a força nos tem bem ligados.

E se tentamos nos rebelar, cansamos.
Ao agredir o outro nos machucamos.
A força nos tem enfeitiçados.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Folhas empilhadas

Folhas empilhadas ainda parecem leves
Parecem ser transparentes de conteúdo
Até que se tome uma nas mãos
E se leia as entrelinhas

Entrelinhas são esqueletos traiçoeiros
Deixados pelos legistas legislativos
Documentos que fazem pesar
Mais do que a sua tinta

Os homens estão presos embaixo delas
Os homens assinam em cima da linha
Os homens estão abaixo delas
Das folhas que ditam

Redigimos de acordo com leis ditadas
Palavras de papel que nada nos falam
Somos mandados ao vento
Folhas de árvore cortada

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Poema menos concreto

Abandonei o meu sonho de mansão
por uma poesia menos concreta.
Encontrei o meu sonho de mansinho
quando vi a porta que inexistia aberta.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Homem constritor

você que mora perto
mas não vê o abismo
não ame o homem
ame o homem que digo
o paredão é verdadeiro
mas a queda é no vazio

estou perto do buraco
nem sei porque insisto
você está no lugar errado
mais perto e te complico
você espera o esperado
eu erro até no paraíso

não me entenda mal
sempre existe algo pior
flor e espinho é normal
todos querem ter a flor
enquanto o espinho é anel
o dedo escapa da dor

você que chega perto
nem sabe quem eu sou
meu abraço é um aperto
que esmaga o que sobrou
da beleza e do afeto
de quem me abraçou