quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Esconderijo 33

O grão.
Eu atrás do grão.
Só uma imagem artística.
Surrealismo que se cria para se esconder algo maior.

A vida.
Eu atrás da vida.
Só vivo eu faço sentido.
Não há nenhum esconderijo do tamanho de um grão.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O segundo da morte

O segundo da morte resolve tudo;
definitivo, agudo.
Nem mais um pingo;
o fim do dilúvio.

Nascer entre rochas é árido também.

Depois de todo o dia,
de segundo em segundo,
a diária agonia.
Afinal, o segundo eterno.

E sair do ovo também é agonia.

A renovação da vida parece durar
até a primeira ferida.
Algo que pontua a vida
que definha num ciclo incerto
que a ninguém pertencia.

Sofrer não some;
só muda de nome.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A rocha

a rocha se foi 
consumida lentamente
como acontece com quem resiste

não haverá mais ritual
ao redor da rocha
como acontecia todos os dias

na sua dureza
existia algo de paciência
ao se conformar com o movimento à sua volta

na sua humildade
não pedia nada demais
apenas alívio dos parasitas do mal

nunca disse não
nunca exigiu um sim
se contentava com um talvez sem dor

foi firme ao apoiar
se calou quando sem apoio
foi dispensada morro abaixo sem valor

a rocha se foi
afundou com a terra
me ensinou que na superfície ninguém é superior

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Processo de envelhecimento


Impassível, o tempo

Todo ato de enganar a morte
é um recomeço.
Sentimos o alívio,
mas não é um movimento justo.
Vamos perder para um adversário
que não está lá.
Não ganhamos mais saúde;
simplesmente ganhamos tempo.
Na verdade, tomamos emprestado
uns 60, 80 ou 120 anos.
E o tempo nem se dá conta;
só nós somos os números.