Ela trabalhava na mesma esquina, na entrada do mesmo prédio há anos.No começo, principalmente as mulheres que passavam olhavam com desdém pra ela."Como é que pode uma mulher fazer isso que ela faz, e bem aqui onde nós moramos?"Os homens pareciam tratá-la melhor, e ela tinha que lidar com vários tipos: encanadores, eletricistas, motoristas, entregadores, motoboys, etc.Ela estava sempre sorrindo e de prontidão observando todos que passavam.Vez ou outra dando só um olá ou boa noite.
A sua família não aprovava o que ela fazia, mas ela tinha que trabalhar.Sua mãe achava muito perigoso trabalhar à noite e sozinha.Ela respondia que a noite as pessoas estão mais calmas do que durante o dia, então não tinha problema.Além disso, às vezes ela começava a trabalhar quando ainda era dia.Já o seu pai sempre insistia para que ela comprasse uma arma.Ela dizia que só as pessoas mal intencionadas usam armas.
A sua mãe também não gostava das roupas que ela usava.Ela dizia pra filha que ela deveria arranjar um trabalho em que não precisasse usar roupas em que as pessoas poderiam julgá-la inferior."Mãe, o meu trabalho é servir as pessoas.Eu gosto de me sentir útil assim.Se alguém me julgar inferior, é porque não precisa de mim."
E ela continuava vendo as pessoas passarem.Às vezes, parando algumas, conversando, explicando.Mas era sempre mais fácil lidar com os homens.As mulheres não gostam quando uma outra conquista algo que elas não conquistaram ainda.Afinal, quantas mulheres porteiras existem por aí?
Ótima crônica rs! A ambiguidade inicial, oferecendo ao leitor - sempre cheio de pensamentos maldosos - uma visão deturpada, é o que mais me chamou a atenção (só o título estraga um pouco a surpresa, pois a palavra turno dificilmente é associada à prostituição - desculpe esse questionamento; é uma visão de leitor escritor implicante: talvez "prontidão" - tirei do próprio texto rs - se encaixasse melhor.) Gostei muito do blog e da visão bem humorada dos fatos cotidianos, característica que destaco, pois poucos escritores, na atualidade, conseguem trazer essa veia poética e engraçada de nossa rotina maçante. Parabéns,talentoso artista sem pena!
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