Aquele instinto de tentar encontrar alguma coisa comestível na geladeira vazia parece banal, mas faz toda a diferença.Aquele instinto de não acreditar que acabou tudo, que chegou a minha hora é muito humano.
Quando você está pendurado no precipício e as pontas dos dedos já não te seguram mais, você usa as unhas.Naquela fração de segundo antes de bater o carro você desvia - talvez pro lado errado - mas você desvia.O seu corpo já se entregou no deserto escaldante, mas a sua mente te mantém caminhando.
Hoje, fiquei reparando enquanto um senhor colocava no carro frutas e legumes que ele trazia de dentro de uma distribuidora de hortifrúti.Uma parte ele estava descartando numa caçamba de lixo.Uma senhora bem idosa que passava, parou bem próximo a ele e ficou observando.Notava-se que era uma senhora humilde, e parecia pedir com os olhos que ele dividisse um pouco com ela.Fui embora antes que ela falasse qualquer coisa, e nunca vou saber se falou, mas não pude deixar de pensar algo estranho: "Até quando mantemos essa vontade ou necessidade de sobreviver?".Acho que a resposta óbvia é enquanto estivermos vivos, não importa a idade.
O instinto de sobrevivência é primitivo, é animal, e quanto mais forte for o foco, a vontade superando a nossa mente racional, maior a chance.Porque ninguém se adapta a viver na neve, na altitude ou no deserto à toa.É preciso combinar uma criatura animal com uma criatura que deixe de lado a ponderação na hora de sobreviver.É preciso ser humano.
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