sexta-feira, 27 de março de 2015

Contradizendo

adoro como fazem vinho
odeio quando chamam o acidente de vinagre
adoro o toque da seda
odeio saber que a minha mão pode rasga-la
adoro a crítica na poesia
já ofender de graça não é licença poética
adoro como inventamos a cura
porém manipulamos o veneno sem dosar
adoro que você saiba falar bem
mas sei que você também sabe gritar
adoro que possamos criar meios
mas sei que os meios são a metade do fim

sexta-feira, 6 de março de 2015

Sanfoneiro

gomo furado de bambu ao vento
um assovio tem nota alta no conceito
bambu e assovio viram pifo no pensamento

sentado na porta de casa
o ranger da dobradiça sola
no gemer do fole
cada mazela da vida seca
vira rima de cordel
entre um e outro gole

arrasta-pé
faz poeira
arrasta fraqueza
faz vivê-la

não tenha dó
tenha respeito
dó em si
é ré na vida

segunda-feira, 2 de março de 2015

Atropelo de palavras

Dirijo uma arma e cuspo balas
que quebrariam leis se colidissem:
são minhas palavras tortas
no vácuo de outro infrator.

Não arranham lataria,
não dão lição alguma.
Às vezes, ricocheteiam
e tiram tinta do meu ego.

No fim, morrem no asfalto
abafadas pelos motores,
ou por algum saco plástico
usado para cobrir cadáveres.