segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Construindo a parede

A parede será linda,
se não ficar no caminho.
Feito a roseira de flor em flor,
ou a roseira de espinho em espinho,
cada tijolo um estorvo,
ou será um belo destino?
Abrigo da chuva e do vento,
ou barreira de saibro em pó fino?

Visão do mundo pela janela,
ou já dela me sinto cativo?
Sentidos pouco aguçados,
à vontade, já sentindo tudo de ouvido.
A cabeça é dura como a parede;
um terreno já conhecido.
A barreira é tão dentro quanto fora;
a parede cresce em volta do umbigo. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nossos vazios


lábios são quentes
pele é arrepio
poço úmido
preencher de gozo
o buraco vazio

ter o que é
prender o alheio ar
espelho sem alma
colecionar algumas
pra poder dominar

tilintar de moedas
a vida pra gastar
o sucesso expira
o bolso é oco
como completar

podre o tronco
fina a casca
larvas são de dentro
procuramos alento
ao trocar de máscara



Selvaggio ll


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O mal uso

nada está bem
quando o mel 
serve para combater o amargor
quando a roupa
serve para ser analisada
quando a dor do outro lado do mundo
serve para criar uma dor deste lado
quando a droga
serve para substituir a pessoa
quando a corda serve para enforcar
quando a corda não serve para salvar

só quero o mel
quero me aquecer
não quero dor inventada
quero ser a pessoa
me dê corda

num mundo onde a impureza foi descoberta
só a pureza já não mais serve

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Valorizando o trauma

As dores e os valores das crianças são de plástico,
brinquedos que se quebram facilmente,
e facilmente são esquecidos.

Talvez alguma brincadeira de mal gosto cresça com o adulto,
já de valores e dores de metal precioso,
prata ou ouro.

Algum trauma que lapidado,
se transforma em:
"É tudo meu! Trauma, prata, ouro, tesouro, eu mesmo,
é tudo meu!"

Afinal,
o plástico demora anos para se decompor na natureza.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pelo erro

O homem melhor é o bebê sem rugas,
sem os fatores que lhe causam rugas.
O cavalo livre está sem calos nas costas,
não precisa de sapatos nos cascos.
A árvore sem restrições não sofre poda,
não tem as limitações dos fios elétricos.
O rio bom corre sem fazer mira,
sem destino que se chame assoreamento.

Tudo o que é pode-se mudar,
segundo quem começou a pensar.
Mudamos tudo o que é de fato,
e de fato, achamos porque mudar.
Direito de ter opinião, de fato temos,
e assim será até morrermos,
pois é uma causa pela qual padecemos,
essa de guerrear pelo direito de errar.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rasgando o verbo

Não é a pele que envelhece;
é o olho que tudo vê
O olho é mais que mira;
é gatilho
O resto é dedo;
é palavra

Nada é impenetrável;
apenas a paciência não é infinita
Ninguém se mata matando a alma;
a alma morta é que mata o corpo

O verbo ser é dono da verdade,
enquanto quem fala é só impaciente
A verdade na prática humana não é onipresente,
enquanto a guerra puder preencher as lacunas

Um ser discorda do outro;
o verbo é rasgado;
o corpo é varado de balas;
inerte, não há reação;
o verbo muda de forma;
é conjugado em mil tempos;
até a próxima exclamação!   

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Outrora

Os lábios de pétala de outrora,
agora mostram dentes como espinhos.
Os dedos que espalhavam o bálsamo,
agora estão banhados de sangue.
Os olhos de contemplação de outrora,
agora mostram as rugas do cenho.
As palavras que já consolaram,
agora gritadas soam como pragas.

Adjetivos são descartados,
inesperados ou frustrados,
quem sabe dos mais adequados,
seja aquele chamado instável,
tal e qual um jogo de dados.


Reação ao sabor do tempo,
o ser muda a cada momento.
Sem nem mesmo ver o vento,
um dia ele acaricia feito brisa,
noutro é a tormenta do tormento.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Musicalidade

Nem toda poesia é poética
Nem toda rima tem uma sina
Nem tudo que cala precisa de fala
Nem bem sei se bem me expressei

Sei que com musicalidade me sustento
Quando da música sou um instrumento

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cidadão mediano

Ser um cidadão mediano
sem interesse de ser
distraído demais pra ser
despercebido passa bem

Sem personalidade extrema
ser sem ambição
sem papo que atraia
desconectado de intenção

Sem ser espionado
fotografado ou questionado
mesmo nu ignorado
sem ser visto ou interrogado
testemunha de coisa alguma
nem por bem leva a fama

Melhor ganhar pouco
pagar muitíssimo pouco
sem ser santo do pau oco
e só um pouco humano ser

Invejo o pouco que chorou
então chorem por ele não
passou quase sem arranhão
essa vida sem freio de mão

domingo, 1 de setembro de 2013

À distância

ela está longe
um dia ela virá
ela passará perto
e perto já é a minha vida

ela dança longe
eu tenho na memória
o meu braço se estende
procurando moldar aquela cintura

ela me reconhece
já me ouve há tanto tempo
acha que eu posso ser bom
notas são boas quando se sabe tocar

ela está vindo
conheço aquele caminhar
meu caminhar é mais torto
vou seguí-la para poder me aprumar